“Um Tira da Pesada 4: Axel Foley”, recém-lançado pela Netflix, tem alguns méritos bem latentes. Primeiro, o filme se entende como uma continuação das três aventuras anteriores do personagem de Eddie Murphy, sem tentar passar por uma espécie de remake para reiniciar uma franquia que fez sucesso há algumas décadas. Outro ponto é que o lançamento da Netflix aposta na nostalgia, o que sempre vende, mas não depende somente dela para funcionar.
Desde a cena inicial, o filme dirigido pelo estreante Mark Molloy a partir do roteiro de Will Beall, deixa o parágrafo anterior bem claro. Não há uma introdução que o público conheça Axel Foley (Eddie Murphy), apenas o encontramos dirigindo pelas ruas de Detroit, ao som da clássica “The Heat is On”, de Glenn Frey, a caminho de um jogo de hóquei. Chegando lá, é um colega policial que deixa claro para o público a importância de Foley ao ficar “nervoso” ao lado do “lendário” policial.
“Um Tira da Pesada 4: Axel Foley” tem a roupagem de um filme de comédia policial dos anos 1980/90, gênero que, se não criou, ajudou a consolidar. Após alguns acontecimentos, Foley tem que voltar para Los Angeles para trabalhar num caso que envolve seu amigo Billy (Judge Reinhold) e sua filha, Jane (Taylour Paige), com quem há algum tempo não se dá muito bem.
Em Los Angeles, claro, Foley se mete em um monte de confusões das quais sempre dá um jeito de se safar. Ele também acaba envolvido em uma trama maior que ameaça a vida de Billy e até de Jane, que assumiu o caso de um jovem preso por supostamente assassinar um policial.
O roteiro de Will Beall, que coincidentemente também assina o bom “Bad Boys 4”, filme que compartilha alguns dos méritos do lançamento da Netflix, é eficiente em introduzir novos personagens, como o policial vivido por Kevin Bacon e a já citada Jane, e também em trazer rostos conhecidos de volta. Por mais que uma ou outra aparição pareça gratuita, é impossível não se divertir com Serge (Bronson Pinchot) ou se sentir recompensado pela presença de Billy.
É interessante como “Um Tira da Pesada 4: Axel Foley” lida com seu público. A nostalgia é essencial, o motivo do filme ser feito, mas o texto sabe que 40 anos se passaram desde o primeiro filme. Assim, por mais que o filme brinque muito com a nostalgia e com as transformações, ele nunca escorrega para o “no meu tempo que era bom” ao lidar com piadas de raça, gênero ou orientação sexual.
Impressiona como Eddie Murphy se sente à vontade no papel mesmo 30 anos depois de sua última aparição. É como se, na verdade, Axel Foley nunca tivesse deixado de fazer parte do imaginário do espectador. A principal nova cara é Joseph Gordon-Levitt, que vive Bobby, um detetive com quem Foley tem que trabalhar.
É interessante como o filme não diminui o personagem ou o faz funcionar como escada para o protagonista. Bobby não se sente intimidado por Foley e ganha do texto espaço para um arco próprio, mesmo que breve, mas que se torna excelente em determinado momento.
“Um Tira da Pesada 4: Axel Foley” é, em sua essência, um blockbuster oitentista realizado nos anos 2020. A ação é bem convencional, mas muito bem realizada, com efeitos práticos, perseguições de carros, tiroteios e um inevitável helicóptero para conferir ao filme um ar de grandiosidade.
O texto brinca com essa suposta simplicidade, deixando bem claro quem são os mocinhos e os vilões logo de cara. É nesse ponto, porém, que o novo “Um Tira da Pesada” tem sua grande falha. Por mais que seja divertido, com texto inteligente e engraçado, o filme carece de um pingo de tensão policial, o que não deixa de ser frustrante, pois o início dá indícios dessa tensão, como na apresentação de Jane.
Ao fim, “Um Tira da Pesada 4: Axel Foley” é melhor do que o esperado, uma continuação direta da trilogia original e dialoga principalmente com as duas primeiras aventuras de Foley em Beverly Hills. O filme não se apresenta como algo inovador e funciona exatamente por isso. É nas piadas de Eddie Murphy e no clima de policial oitentista que o lançamento da Netflix conquista seu público, velho ou novo.
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