É fácil entender o apelo de “Todos Menos Você”, sucesso nos cinemas que agora chega à Max (antiga HBO Max). O filme de Will Gluck (“Amizade Colorida”) se sustenta basicamente em dois belíssimos pilares, Sydney Sweeney e Glen Powell, seus protagonistas. Pouco importa, na verdade, a trama ou o resto do filme, desde que os lindos Sweeney e Powell encarem suas jornadas e fiquem juntos como em qualquer comédia romântica que se preze.
Inspirado do clássico “Muito Barulho por Nada”, de Shakespeare, “Todos Menos Você” é a história de Bea (Sweeney) e Ben (Powell). Eles se conhecem por acaso, em uma cafeteria, e se conectam de imediato. Após passarem o dia e a noite perfeitamente juntos, tudo dá errado no dia seguinte e eles se distanciam. Seis meses depois, se reencontram em uma boate, pois a melhor amiga de Ben está prestes a se casar com a irmã de Bea.
A partir daí, “Todos Menos Você” é uma comédia romântica formulaica e confortável. Bea e Ben vão de amantes a inimigos e novamente amantes quando partem rumo à Austrália para o casamento. Lá, familiares, amigos e ex-namorados entrarão no meio da história, fazendo com que os protagonistas resolvam fingir um relacionamento de mentira só para que todos ao redor os deixem em paz. Todo espectador obviamente sabe como isso vai acabar.
O filme de Will Gluck vive de momentos diferentes, do humor físico constrangedor à química de Sweeney e Powell em cena, que não chega a ser tão grandiosas quanto o alardeado, mas que funciona para o que o filme se propõe. O elenco de coadjuvante traz alguns bons personagens que têm bons momentos quando não estão sendo utilizados como muletas do roteiro.
Quando é ruim, “Todos Menos Você” é muito ruim, como os piores filmes de Adam Sandler, por exemplo – o texto busca conflitos artificiais e bobos, se sustentando em conveniências preguiçosas para movimentar o roteiro. Em contrapartida, quando se volta para as idas e vindas do casal de protagonistas, excluindo o humor físico e as escolhas muito ruins do texto, o filme até diverte.
É muito óbvio que não existe muito a se aprofundar no filme que chega agora à Max – os personagens são tão superficiais quanto os conflitos do texto. Nunca entendemos ao certo os questionamentos pessoais e algumas escolhas de Bea, e tampouco conseguimos nos conectar com Ben, um sujeito gente boa, mas infantilizado pelas escolhas que o texto entrega para ele.
É irônico como “Todos Menos Você”, uma comédia romântica criada para ser confortável, requer um esforço do espectador. Ok, entendemos que Sydney Sweeney e Glen Powell são lindos, como não torcer para que um casal desses fique junto e nos entregue lindos bebês no futuro? Mas o que resta além disso?
O curioso é justamente haver algo além, uma história baseada nas escolhas às vezes feitas sem que nem saibamos exatamente o porquê, uma trama que aponta o dedo para a simplicidade das coisas, mas que coloca diversos obstáculos no caminho dessa visão.
Ao fim, “Todos Menos Você” é como aquela série que você recomenda dizendo “depois do quarto episódio engrena”. É um filme charmoso e felizmente termina em alta, oferecendo exatamente o que se espera dele e recompensando o espectador que enfrentou momentos bem ruins para chegar àquele ponto.
DICAS
Shin Godzilla (Amazon Prime Video)
Com o medonho “Godzilla e Kong: Novo Império” nos cinemas, é um bom momento para conferir o japonês “Shin Godzilla” e entender ( ou lembrar) que a construção japonesa do Godzilla é muito melhor do que a americana. Se você gosta de filmes de monstros ou se gostou do excelente “Godzilla Minus One”, “Shin Godzilla”, dirigido por Hideaki Anno, criador de “Neon Genesis Evangelion”, provavelmente vai te conquistar.
Sócrates (Netflix)
Dirigido por Alexandre Moratto (“7 Prisioneiros”) e estrelado por Christian Malheiros (“Sintonia”), “Sócrates” é o filme que colocou ambos no mapa. Após a morte da mãe, o jovem Sócrates passa a sobreviver sozinho em São Paulo, colocando à prova todos seus valores e ideais ao mesmo tempo em que tem que lidar com o luto e a culpa acerca da própria sexualidade. Um filmaço.
Reencarnação (MAX)
Vencedor do Oscar por “Zona de Interesse”, Jonathan Glazer já faz filmes incômodos há bastante tempo. Em “Reencarnação”, Nicole Kidman vive uma mulher que, dez anos após a morte do marido, conseguiu reconstruir sua vida. As coisas ficam bem estranhas quando um menino de 10 anos surge dizendo ser a reencarnação do falecido. Estranho, nada confortável e com uma atuação magistral de Kidman.
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