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Foto do escritorRafael Braz

"Supacell", da Netflix, é série de super-heróis disfarçada de drama social



É quase certo, em uma realidade digital que vive de chamadas atrativas e não necessariamente reais, que “Supacell” será vendida como uma espécie de “The Boys” da Netflix. A recém-lançada série britânica da plataforma guarda poucas semelhanças com a absurda adaptação de quadrinhos da Amazon Prime Video a não ser o fato de ser centrada em um grupo de seres superpoderosos.


“Supacell” ‘mais séria, muito focada no drama pessoal de seu grupo de protagonistas. Logo no início, acompanhamos uma mulher tentando fugir de uma instalação misteriosa - não sabemos por que ela está ali ou que lugar é aquele, mas, quando seu olho brilha, entendemos que ela tem poderes. Há outro detalhe ali, todos os encarcerados são negros, assim como a mulher que tentava fugir.


Logo somos apresentados aos protagonistas da série criada pelo rapper inglês Rapman (sim,o rapper se chama Rapman). O texto é centrado em Michael (Tosin Cole), um sujeito bacana, em um momento bom da vida, com um bom emprego e prestes a se casar. É através dele que somos conduzidos pelos seis episódios da série – quando seus poderes se desenvolvem, Michael vê alguns acontecimentos no futuro e precisa reunir um grupo de pessoas como ele para evitar aquilo.



“Supecell” tem uma construção interessante de universo, com personagens diferentes, cada um com sua história, em uma Londres de maioria negra – a título de curiosidade, 13,5% da população londrina é de pessoas negras. 


Após um início um tanto acelerado, principalmente pela conclusão do primeiro episódio, que tem a função de despertar o choque no espectador e fazer com que ele continue assistindo à série, “Supacell” dá uma desacelerada para trabalhar seus personagens. Além de Michael, há Sabrina (Nadine Mills), uma enfermeira bem-sucedida; Andre (Eric Kofi Abrefa), um ex-presidiário tentando se acertar com o filho; Rodney (Calvin Demba), um jovem de poucas oportunidades que acaba no tráfico; e Choque (Josh Tedeku), o líder de uma gangue dos subúrbios londrinos.


Como disse antes, “Supacell” é um texto que busca a seriedade, o drama cotidiano dos personagens para despertar uma identificação do público. Assim, a série trabalha questões sociais e a intimidade desses personagens no momento em que pisa no freio. Apesar de compreensível, a escolha é também um tanto frustrante, com a narrativa esperando até o episódio final para que enfim retornemos àquele ponto inicial, tirando, assim, toda a tensão do que poderia acontecer com os personagens.



Acompanhamos cada um dos cinco protagonistas descobrindo seus poderes e aprendendo a lidar com eles. A história deles se conecta, em uma teia cheia de coincidências e escolhas nem sempre inteligentes, mas com movimentos que cumprem seu papel. Da mesma forma, o texto “explica” o fato de todos serem negros de forma simples, sem muito didatismo, apenas jogando a informação e torcendo para que o espectador a compre.


Há bons momentos e a série funciona pela simplicidade, mas o destaque acaba sendo as possibilidades não aproveitadas pelo texto. “Supacell” perde a oportunidade de explorar seu drama racial, de mostrar a realidade do negro britânico pelas lentes da fantasia, algo bem realizado por Jordan Peele (“Corra!”, “Eles”, “Nope”), por exemplo, ou por nomes como Juel Taylor (“Clonaram Tyrone!”) e Boots Riley (“Sou de Virgem” e “Desculpe te Incomodar”). Ao invés disso, a série da Netflix opta por uma narrativa segura, o que a aproxima da finada “Heroes”, mas sem a breguice novelesca ou a longa enrolação por muitos episódios.


O texto desperdiça o impacto de alguns acontecimentos, como a extensão dos poderes dos personagens, ao explorá-los em momentos de pouca importância à trama, apenas para “parecer legal”. Há ainda uma misteriosa organização que nunca é totalmente explorada.

A série da Netflix não é ruim e oferece uma experiência até agradável em seus seis episódios, mas ela parece se satisfazer com isso e peca pela falta de ousadia.


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