“Tudo é real! Algumas pessoas com visões acabam internadas, mas outras ganham o Prêmio Nobel”. A frase, dita em momento crucial de “O Sinal”, resume a pegada do texto de ficção científica da minissérie alemã da Netflix.
“O Sinal” conta a história de Paula (Peri Baumeister), uma cientista prestes a retornar de uma estação espacial para onde foi enviada por iniciativa de uma visionária bilionária. Quando a série tem início, conhecemos Sven (Florian David Fitz) e Carlotta (Yuna Bennett), marido e filha de Paula, que está prestes a retornar do espaço. As coisas não saem tão bem no pouso do módulo no deserto do Atacama, no Chile, mas Paula retorna à Terra.
No voo que levaria Paula de volta à Alemanha, no entanto, algo acontece. O avião desaparece do radar, deixando Sven e Carlotta sem informações sobre o paradeiro de Paula – o que teria acontecido? Será que isso tem alguma conexão com o que a cientista acredita ter visto no espaço?
“O Sinal” é uma ficção científica que coloca tudo em dúvida. Ao entendermos o que de fato aconteceu com Paula, a questão é saber se ela realmente viu o que acredita ter visto ou se estava perdendo a sanidade. O texto é bem eficiente ao construir esse mistério sem pressa, em flashbacks que reconstroem a vida da cientista antes da missão espacial, seu relacionamento com o marido e a filha, e a maneira como ela enxerga o mundo.
Em sua outra faceta, o drama, a série da Netflix tem bons momentos, principalmente na relação entre Sven e Carlotta, pai e filha, a “equipe da Terra”, como eles se definiram diante da ausência de Paula. Há cumplicidade em cada ato ou olhar entre eles, o que é reforçado pelo fato da menina ser deficiente auditiva, ou seja, em vários momentos, apenas seu pai consegue se comunicar com ela – a sequência em que ele revela a ela o possível destino de Paula é comovente. As atuações de Florian David Fitz e Yuna Bennett ajudam muito nessa construção, com uma intimidade visível entre seus personagens, algo que os aproxima do espectador.
Em quatro episódios de cerca de 55 minutos, a série é bem redonda, introduzindo, desenvolvendo e concluindo a trama, mas não sem idas e vindas do roteiro. É em algumas dessas escolhas do texto que “O Sinal” sai um pouco do rumo, com escolhas que nem sempre fazem muito sentido se analisadas com um pouco de cuidado, mas que servem de muletas para movimentar o texto.
Algumas viradas, por exemplo, dependem muito de uma boa vontade do espectador e de pouca inteligência de alguns personagens. Principalmente na trama situada na Terra, a série depende de algumas coincidências e conveniências – o texto até se esforça para conectar tudo, mas é fácil perceber os arcos que de fato importam.
“O Sinal” é simples em seus conceitos de ficção-científica, deixando-os perto do real e nunca se aprofundando muito, tornando tudo bem acessível ao espectador e dando espaço para o drama ter destaque. É interessante que a série tenha na intimidade e na cumplicidade entre os personagens sua base de sustentação; a virada final só é possível porque aquele núcleo se conhece bem.
Mesmo previsível em alguns momentos, “O Sinal” é uma boa minissérie. Uma ficção científica com afeto e uma boa trama, cheia de reviravoltas, para construir uma história com a qual o público pode se relacionar e se envolver facilmente. A produção alemã também mostra ser possível trabalhar com ideias, mexer com o imaginário, sem muitos recursos. O final, mesmo que talvez frustre parte dos espectadores que ansiavam por algo grandioso, se encaixa no que a série se propõe a criar, com uma cena intimista a partir de um acontecimento que é simples, mas significa muito.
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