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Foto do escritorRafael Braz

Sucesso na Netflix, "Jogos de Amor" é comédia romântica sem graça



Em sua essência, as comédias românticas oferecem duas coisas: a segurança e o conforto. O espectador sabe perfeitamente o que vai encontrar ao escolher assistir a uma obra do gênero, e não há nenhum problema nisso. Em contrapartida, o gênero se torna extremamente óbvio e quase nunca ousado – quando levado a outros rumos, entrega ótimas histórias como as recentes “Um Dia” e “Sr. & Sra. Smith”, sobre as quais já falei por aqui.


Outro aspecto quer conta a favor das comédias românticas já não diz respeito à narrativa, mas ao dinheiro. Sem grandes efeitos, com cenas mais simples e normalmente situadas em ambientes urbanos, as obras têm baixo custo de produção. Some-se isso a um público já garantido na plataforma de streaming e se chega à fórmula “ideal” (ao menos para as produtoras).


“Jogos de Amor”, sucesso na Netflix, é o exemplo perfeito para tal fórmula. O filme dirigido por Trish Sie para a Netflix é simples e segue a receita do gênero, o adaptando para a sociedade em que vivemos hoje. Fosse realizado nos anos 1990 ou 2000, o filme teria um olhar mais machista e provavelmente uma inversão de papéis, mas, em 2024, o texto de Whit Anderson, que já escreveu para séries como “Ozark” e “Demolidor”, ambas da Netflix, é protagonizado por uma mulher viciada na sedução e incapaz de enxergar o amor.




No filme, Mack (Gina Rodriguez) é uma jornalista que cobre esportes locais como “corrida de tartarugas” e tem um grupo de amigos com os quais realiza jogos de sedução. Na noite, Mack e cia. têm um arsenal incrível de encenações e histórias das mais complexas para a conquista; tudo é um jogo pra eles, que nunca se envolvem, de fato, com seus alvos.


As coisas mudam quando o bonitão Nick Russel (Tom Ellis, de “Lucifer”) chega à cidade. O premiado jornalista britânico entra na mira de Mack, mas ela quer mais que a conquista, ela quer transformar aquilo num relacionamento, quer ter uma gaveta na casa dele para guardar suas coisas.


“Jogos de Amor” é um filme bobo e superficial, mas é o que se espera dele. Mack e seus amigos não são exatamente carismáticos, mesmo que soltem algumas boas tiradas de vez em quando, e as viradas são um pouco repentinas. 


O texto gasta boa parte no jogo de Mack e seus comparsas para conquistar Nick, mas não há a recompensa, pelo contrário. No que talvez seja uma tentativa de surpreender, o filme apresenta novos “jogadores” para sua trama, arco que até é ensaiado, mas logo descartado pelo roteiro em seu segundo ato.




É frustrante, assim, que o filme se resuma a duas cenas que, juntas, não chegam a oito minutos de duração. Com essa escolha, “Jogos de Amor” parece um desperdício, uma vez que seus conflitos são ruins e, como todo o resto, superficiais, sempre beirando o exagero, como se a comicidade escondesse suas falhas. 


Há em “Jogos de Amor” algumas histórias mal exploradas e que renderiam mais à trama. A situação do jornal em que Mack e seus amigos trabalham, por exemplo, só é utilizada quando o roteiro precisa de algum conflito adicional. Da mesma forma, o possível conflito geracional na arte da conquista, com que o filme até brinca em certo momento, é deixado de lado após um breve comentário de uma personagem mais jovem.


Se o espectador ainda se der ao trabalho de analisar minimamente o filme, não resta nada além de cenas curtas que parecem esquetes que deveriam tirar alguma risada do público. O problema é que o filme de Trish Sie raramente é engraçado – soma-se isso a personagens pouco interessantes, que o roteiro nunca se dá ao trabalho de desenvolver, e a conflitos forçados e pronto, temos um filme totalmente descartável. 



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