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Foto do escritorRafael Braz

"Sr. & Sra. Smith: Série do Prime Video é deliciosamente estranha


Donald Glover e Maya Erskine. Glover é um homem negro, magro, de roupa branca e suja de sangue. Maya Erskine é uma mulher branca, com traços levemente orientais, vestida de preto e também um pouco descabelada
Donald Glover e Maya Erskine na nova versão de Sr. e Sra. Smith, do Prime Video

“Sr. & Sra. Smith”, série da Amazon Prime Video, tem um grande desafio: convencer o público de que não é exatamente um remake do sucesso estrelado por Brad Pitt e Angelina Jolie em 2005. Apesar do mesmo nome e de ainda se tratar de uma história de um casal de espiões, todo o resto é diferente na série criada por Francesca Sloane e Donald Glover, também protagonista.


Ao lado de Maya Erskine, Glover não vive um casal em crise no relacionamento que descobre que ambos são espiões rivais. Na série, eles são dois agentes que não se conhecem, mas acabam juntos ao deixarem suas vidas para trás e ingressarem em um projeto que reúne espiões como casais, ideia bem similar à já explorada na espetacular “The Americans” (disponível no Star+).


Em um formato semi-procedural, cada episódio traz uma nova missão para o casal, um sequestro, uma entrega, uma operação de vigilância – eles nunca sabem exatamente a motivação da missão, apenas cumprem ordens.




“Sr. & Sra. Smith” tem ingredientes óbvios para uma série de espionagem e ação, mas vai além. A série busca um tom mais realista, dentro do possível, e entrega dramas também mais reais. Assim, a história do “casal” se desenvolve com calma, entre uma missão e outra, o que é possível graças ao formato seriado e à não-necessidade de uma experiência frenética em duas horas de projeção.


A série tem uma estrutura bem definida. Em sua primeira metade, os primeiros quatro episódios, tudo funciona como uma comédia romântica, com os protagonistas se conhecendo e se envolvendo além da profissão. Já a segunda metade tem John e Jane em um momento já não tão bom do “casamento”, quando o encanto já passou e pequenas questões ganham mais importância do que deveriam ter, tudo num tom “ser espião é fácil, difícil é manter um relacionamento”.




É no momento em que o espectador entende não se tratar de uma série de ação que tudo realmente funciona. “Sr. & Sra. Smith” tem ação, claro, mas as cenas não empolgam – nenhuma das missões é particularmente criativa ou envolvente o suficiente.


Em contrapartida, como uma comédia de relacionamentos, a série abre espaço para o ótimo texto e para os atores, protagonistas e convidados. A Jane de Erskine é metódica e pragmática, uma óbvia contraposição a John, construído sobre o charme de Glover. Inicialmente parece faltar um pouco de química à dupla, mas deve-se lembrar que os personagens também estão se conhecendo.


É interessante ver a construção do relacionamento e da intimidade de John e Jane, os pequenos gestos que demonstram afeto ou até mesmo o medo do fim daquela parceria que lhes proporciona, além de uma vida juntos, muito conforto. Quão verdadeira, então, é essa relação que eles constroem enquanto vivem outras vidas? Talvez, porém, a ideia vá além ao lidar com a construção de qualquer relacionamento a partir das diferenças que parecem inconciliáveis.  




É encantador como o roteiro possibilita brilho nos em papéis secundários, com Wagner Moura e Parker Posey vivendo um casal junto há bastante tempo e com uma intimidade imediatamente compartilhada com o público. Moura e Posey são charmosos, um tanto esquisitos, imprevisíveis e até um pouco assustadores na maneira como se tratam – é quando eles estão em tela que “Sr. & Sra. Smith” tem alguns de seus melhores momentos. Além deles, há também as presenças de John Turturro, Sarah Paulson, Paul Dano e Michaela Coel, todos com o devido destaque e participações que vão além das “aparições especiais”.


Ao fim, a nova série do Prime Video é ótima mesmo em comparação ao filme de Doug Liman (que nem é tão bom assim). “Sr. & Sra. Smith” é deliciosamente estranha, com um bom texto e um clima meio “Atlanta” em vários momentos, além de ser conduzida por dois atores que funcionam bem juntos, ou seja, tem a fórmula perfeita para uma comédia romântica não-convencional.


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