top of page
Foto do escritorRafael Braz

“Samurai de Olhos Azuis”, da Netflix, é uma das grandes séries de 2023

Atualizado: 31 de jan. de 2024



Na última semana, a Netflix lançou duas séries em animação sobre samurais. A primeira delas, “Onimusha”, leva para as telas o clássico jogo da Capcom em uma história produzida pelo lendário cineasta Takeshi Miike, uma história de magias, lutas, demônios e lendas japonesas. O resultado é razoável, com boas sequências, mas um tanto perdido para quem pouco conhece o jogo. O outro lançamento, um dia depois, foi “Samurai de Olhos Azuis”, série americana, com vozes originais em inglês, e que entrega tudo o que se espera de uma trama de samurais, ao menos pelos lados de cá…


“Samurai de Olhos Azuis” não esconde o que é, uma série adulta, situada no Japão do Período Edo (1603 – 1868), mas produzida para um público maior. Em oito episódios, a primeira temporada da série acompanha Mizu (Maya Erskine), o personagem título, em sua jornada por vingança. Em 1633, o Japão fechou suas fronteiras para imigrantes – apenas japoneses puros poderiam habitar aquelas terras. Neste cenário, os olhos azuis de Mizu escancaravam a sua miscigenação com europeus, fruto de abusos sofridos pela mãe, e lhe causaram muitos problemas. Mizu cresceu às margens da sociedade, como um pária, um animal, e só encontrou abrigo com um ferreiro cego responsável pelas mais especiais espadas do Japão (Cary-Hiroyuki Tagawa).

Apesar de trazer um de seus personagens no título “Samurai da Olhos Azuis” também tem tempo para Akemi (Brenda Song), uma jovem princesa disposta a se rebelar contra os acordos de casamento da época e se casar com Taigen (Darren Barnet), um honrado samurai. Em sua busca por vingança, Mizu encontra Taigen e tudo se transforma na vida dos envolvidos.


“Samurai de Olhos Azuis” tem um roteiro simples, mas muito bem amarrado. O texto constrói bem os personagens e a ambientação, oferecendo uma crescente de tensão, uma antecipação para os confrontos. A série tem nas cenas de ação sua maior força – elas são estilizadas, bem pensadas e com coreografias ricas, além de uma violência gráfica que dá peso ao combate.

A busca por vingança de Mizu é intercalada por um jogo de poder, com peças se movimentando nos bastidores. Tudo é muito fácil de se acompanhar, tornando a série uma mistura de animações Disney, tendo “Mulan” como comparação inevitável, e narrativas como “Game of Thrones”, cheia de sexo e violência.


“Samurai de Olhos Azuis” não é um anime, e é importante ressaltar isso. A série tem produtores e roteiristas estadunidenses e busca um produto para o público global, o que não chega a ser um problema (mas talvez os japoneses pensem diferente…). Misturando animação em 2D e 3D, sempre com um aspecto “artesanal”, a série cria cenários belíssimos e ganha possibilidades infinitas para as cenas de luta, mesmo que até se mantenha sóbria (dentro do possível) neste quesito.


É curioso como a narrativa se assemelha à de um jogo de aventura, com novos personagens “desbloqueando” regiões e inimigos. Assim, em quase todos os episódios há ótimos momentos de luta contra grupos de vilões genéricos e, às vezes, contra um grande e poderoso chefe. A série é muito certeira ao tornar seus protagonistas pessoas frágeis, pelas quais o espectador pode e deve temer, ou seja, as lutas têm importância e nunca são vazias.


O texto, porém, desperdiça algumas oportunidades interessantes de discutir outros temas. Sim, há personagens secundários com histórias próprias, mas não é nada que não tenha sido feito anteriormente. Mizu busca vingança, mas também está em uma jornada de autodescoberta; Akemi quer independência; o ótimo Ringo (Masi Oka, em um dos personagens mais legais da série), quer superar adversidades para ser “grande”, mesmo sem saber ao certo o que isso significa.


“Samurai de Olhos Azuis” é divertida, ágil, violenta e sensual, mas é principalmente um grande produto pop e parece não apenas lidar bem com isso, mas explorar essa característica a seu favor. A série coloca a trama sempre em movimento, com algo importante acontecendo ou prestes a acontecer, e desenvolve bem seus personagens e suas relações a partir de costumes da época, mas com pegada contemporânea.


Se tudo isso dito acima te interessa, “Samurai da Olhos Azuis” é imperdível, um dos melhores lançamentos do ano. A animação possibilita que a série da Netflix seja grandiosa e ambiciosa, já até mirando uma ampliação do universo, como se vê no final da temporada. A série, apesar da estética, busca um público maior, com tramas políticas, conflito de costumes, sexo e espetaculares sequências de ação. Novamente, não se trata de um anime, mas de uma história envolvente, com excelentes combates e bons dramas pessoais.

0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page