É praticamente impossível não se empolgar com o que “O Regime”, primeira série do Max a carregar o “selo” HBO, oferece. Criada por Wiil Tracy (“Succession” e “O Menu”) e produzida por nomes como Stephen Frears, duas vezes indicado ao Oscar (“Os Imorais” e “A Rainha”), a série ainda tem a oscarizada Kate Winslet (“O Leitor”) como protagonista, vindo de uma das melhores séries dos últimos anos, “Mare of Easttown”. Ainda, a trilha sonora de Alexander Desplat, vencedor do Oscar por “A Forma da Água” e “O Grande Hotel Budapeste”, dá um tom especial à narrativa. O que haveria para não gostar?
“O Regime” se passa no fictício país da Europa Central comandado pela chanceler Elena Venham (Winslet), líder do governo que livrou a nação das “garras do neomarxismo” e agora parece pronto para se abrir de vez para os EUA. Quando a série tem início, o militar Herbert Zubak (Mathias Schoenaerts) está sendo levado ao palácio de governo – Zuback participou recentemente de uma chacina que lhe rendeu o apelido de “açougueiro”, mas foi escolhido pela chanceler para estar ao seu lado.
Inicialmente, ele apenas serve como medidor de umidade e mofo, acompanhado a germofóbica governante aonde quer que ela vá, mas ele logo ganha mais importância para Elena ao se mostrar a única pessoa a seu redor de fato preocupada com as artimanhas de membros do governo. Estamos vendo a construção de um golpe, querem deixar a chanceler apenas como o rosto do poder executivo?
Nos seis episódios da minissérie, “O Regime” tem algumas inspirações claras como “Veep” ou “A Morte de Stálin”, satirizando a incompetência e a pouca inteligência de pessoas poderosas. Tracy também imprime seu estilo de ridicularizar os ricos colocando-os em situações patéticas e bem pouco dignas, característica que deu certo em “Succession”, mesmo com tons mais sérios.
O texto é pouco didático para explicar o que está acontecendo ou para ambientar o espectador. As primeiras sequências são estranhas, reforçadas pela utilização de plano holandês (a câmera meio torta) para reforçar a confusão daquele lugar. A série ganha corpo quando Venham e Zubak se aproximam em uma relação cheia de camadas que vão da tensão sexual à tentativa de tornar a governante mais próxima do povo de seu país, o que obviamente irrita a oposição e os conspiradores.
Quando novas peças surgem no tabuleiro político (o personagem de Hugh Grant é ótimo), a série ganha ritmo e mostra a força da sátira no comentário político, no inescrupuloso jogo do poder.
“O Regime” aposta na pegada absurda, despertando comparações com “Dr. Fantástico” (1964), de Stanley Kubrick, mas perde um pouco a mão em seus personagens. Por mais que a chanceler seja um óbvio espelho de líderes populistas de extrema-direita mundo afora, a caricatura criada para a personagem é excessiva, com sotaque carregado e uma superficialidade que nunca permite que o espectador se aproxime dela; da mesma forma, Herbert Zupak não é um coprotagonista fácil de ser consumido.
A minissérie da Max é muito melhor quando deixa os absurdos para suas tramas políticas e menos para os personagens. Quando busca a simplicidade, “O Regime” diverte com texto inteligente, mas a preocupação com uma grandiosidade, com a entrega além do que é capaz, tira a série do rumo em diversos momentos. Mesmo que não conquiste de cara, a série ainda é boa, ainda que deixe a sensação de que poderia ser bem melhor.
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