“Invencível” é a melhor série de heróis já feita, e isso é ponto consolidado para mim. Sim, pode-se discutir sobre “The Boys” ou até do derivado “Gen V”, ou talvez do início de “Demolidor”, na Netflix, mas nenhuma série conseguiu levar para as telas a magia dos quadrinhos. Lançada pela Amazon Prime Video em 2021, “Invencível” leva às telas a longa saga das HQs lançadas por Robert Kirkman e Cory Walker.
Quase 31 meses depois da estreia da primeira temporada (atraso ocasionado pela pandemia de Covid-19, segundo Kirkman), a série finalmente retorna com novos episódios ao Prime Video, retomando a história de onde parou, ou mais ou menos isso…
Quando o primeiro episódio da segunda temporada tem início, temos um vislumbre de uma dimensão paralela em que Mark (Steven Yeun) se juntou a seu pai, Omni-Man (J.K. Simmons), e dominou a Terra. É um universo cruel e é lá que também conhecemos Angstrom Levy (Sterling K. Brown), um jovem poderoso, capaz de abrir portais entre dimensões, e disposto a evitar que essa realidade se repita. O episódio inicial e provavelmente boa parte da temporada deve ser no desenvolvimento de um novo vilão e suas motivações, mas este texto não conterá spoilers a respeito disso.
“Invencível” usa a violência extremamente gráfica como argumento narrativo, algo que reforça a humanidade de alguns personagens e sempre escolhendo bem os momentos de sua utilização para manter o choque como resultado. Ainda assim, o texto de Kirkman entende que não é apenas a violência física que marca – todo arco de Debbie (Sandra Oh), mãe de Mark, é de uma crueldade enorme. A personagem não participa de forma ativa da ação, mas sofre as marcas de um relacionamento tóxico que sempre lhe pareceu saudável; dói, assim, quando ela descobre que era uma espécie de animal de estimação totalmente descartável para Omni-man.
Da mesma forma, “Invencível” é uma série que olha sempre adiante, pois a vida de Mark não para diante de todos acontecimentos. O protagonista ainda vai a escola, namora, tem problemas com amigos e sonha em entrar em uma boa universidade. De maneira inteligente, a série sempre oferece um alívio, um momento para que o espectador e o texto respire, entre uma batalha ou outra.
A nova temporada será dividida em duas partes de quatro episódios, uma decisão contestável, mas que talvez funcione para manter a série em destaque por mais tempo. A segunda temporada traz de volta personagens conhecidos e introduz outros, como Angstrom Levy, que provavelmente terá relevância ao longo da série (se não mudarem os quadrinhos).
É justamente esse respeito ao excelente material original que destaca “Invencível” no mar de série de heróis. Se por um lado a escolha pela animação pode parecer ligeiramente infantil, por outro ela possibilita todos os absurdos da HQ, e são muitos. É impossível não assistir às batalhas da série da Amazon sem se questionar como aquilo seria feito em live-action. Deixa eu ajudar com a resposta, elas jamais seriam realizadas.
Um live-action de “Invencível”, para contar a mesma história, da mesma forma, seria absurdamente caro, teria computação gráfica de qualidade duvidosa e seria cancelado após a primeira temporada. A série acerta, ainda, no lado humano, em questionamentos universais. Estamos fadados a repetir os erros de nossos pais? O quanto estamos condicionados a cumprir as expectativas familiares e o qual o peso de nossas escolhas nesse processo? Os devaneios de Mark normalmente são exibidos em boas montagens, como a do primeiro episódio da nova temporada, que tem o herói em ação, mas totalmente apático, ao som “Karma Police”, do Radiohead. É clichê? Sim, mas funciona que é uma beleza.
Focado no personagem título e seus problemas, “Invencível” às vezes se esquece de suas subtramas, e isso pode incomodar. Esse incômodo também pode ser gerado com uma aparente falta de “rumo” em alguns episódios, mas o texto de Kirkman está sempre em movimento, arrumando algumas peças e preparando o cenário para algo maior. Se a HQ for seguida, como parece que será, algo muito maior de fato aguarda o espectador logo mais.
“Invencível” é tão boa porque consegue captar a essência de seu material original. O envolvimento de Robert Kirkman na série, é claro, ajuda, mas não é só isso. A série traz a magia, o encantamento e os absurdos das histórias em quadrinhos sem vergonha alguma, sem uma preocupação em ser “real”, e fugindo das fórmulas que vemos com frequência em outras obras do gênero.
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