Embalado pelo carisma do então galã Patryck Swayze (1952-2009) e por inúmeras exibições nas tarde da TV aberta (diria ‘Sessão da Tarde’, mas tenho a impressão de que era no SBT), “Matador de Aluguel” (1989) virou um clássico cult. A história do leão de chácara faixa preta em caratê e com um discurso cheio de filosofia barata era pouco desafiadora e cheia dos clichês e vícios da época, mas também bastante divertida. O filme ganhou uma sequência barata em 2006, um filme que hoje provavelmente faria sucesso na Netflix, mas que felizmente acabou esquecido nas locadoras de DVD.
Lançado com pompa pelo Prime Video, o novo “Matador de Aluguel” não é nem um remake nem uma continuação do filme de 89, mas uma reimaginação de como tudo aquilo funcionaria hoje em dia. O filme tem início quando Frankie (Jessima Williams, de ‘Shrinking’) chega a uma luta clandestina atrás de um segurança para seu bar – a ideia era contratar o sujeito que vencia todas as lutas, mas ele acaba atrás mesmo é do sujeito contra quem o tal vencedor se recusou a lutar.
Elwood Dalton (Jake Gylenhaal) é um ex-lutador de UFC que fez fama, mas abandonou a carreira após um trauma. O filme dirigido por Doug Liman (‘Identidade Bourne’) é bom ao revelar seu protagonista sem pressa, deixando que o espectador imagine cenários que possam ter levado Dalton àquele lugar. Quando ele chega ao bar de Frankie, na ensolarada Flórida, se depara também com uma turma de valentões que atormentam a paz do estabelecimento – claro que existe algo por trás de tudo isso e, sem aviso, Dalton acaba no centro de toda a trama.
“Matador de Aluguel”, tal qual o material original, é uma obra simples. A ideia de Liman é encher o filme de referências e estilo oitentista para buscar o público pela nostalgia, mas ambientando a ação nos dias de hoje. O texto tem algumas boas sacadas, como brincar sobre aquela situação que tanto parece um livro barato de faroeste, com um estranho chegando para livrar a cidade de bandidos.
É nesses vilões, inclusive, que o filme tem seu ponto mais fraco. É tudo muito caricato e superficial, duas escolhas do texto em busca de uma diversão mais efêmera. É quase como se Doug Liman pedisse para seu espectador “não se preocupar com nada e apenas se divertir”. Funciona, em alguns momentos, mas também irrita em outros, quando, por exemplo, uma personagem explica os motivos do bar de Frankie ser tão interessante para os vilões uma cena antes da câmera mostrar o vilão chefe com um mapa marcado onde está o bar. Não incomoda, mas também não agrega.
Da mesma forma, a ação do filme tem altos e baixos. Gylenhaal está ótimo como o protagonista, um cara capaz de derrotar sozinho um grupo de inimigos armados e, ainda assim, ser gente boa com todos eles. O filme deixa claro os traumas do personagem, mas não o transforma apenas neles. O grande ponto a ser discutido é a utilização de computação gráfica em excesso nas cenas de luta – Liman optou por uma tecnologia nova, que supostamente daria mais naturalidade e força aos golpes, mas não é sempre assim.
As lutas perdem fluidez, principalmente as mais elaboradas, na “substituição” do ator por seu dublê digital. Isso fica escancarado quando Dalton confronta o personagem do lutador Conor McGregor, no clímax do filme – vale dizer que há boatos sobre o filme ter sido concluído com inteligência artificial durante a greve dos atores nos EUA, o que “explicaria” a fotografia de algumas cenas tentando “esconder” os envolvidos.
Voltando ao roteiro, ele tenta expandir alguns temas e arcos do filme estrelado por Patryck Swayze, e até o faz, mas nunca de uma maneira apropriada. O texto introduz personagens e situações, mas são todos apenas perfumaria em uma trama tão direta quanto o arco principal.
Dessa forma, o novo “Matador de Aluguel” é um filme que depende da boa vontade do espectador. Se você estiver a fim apenas de Jake Gyllenhaal em uma ação descompromissada, com um personagem interessante, alguns bons coadjuvantes (e rostos conhecidos), diálogos cafonas e uma trama clichê confortável, talvez seja uma boa escolha. Caso contrário, melhor não arriscar.
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