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Foto do escritorRafael Braz

Em 3ª temporada, "Bom Dia, Verônica" se redime antes do fim

Atualizado: 16 de fev. de 2024


Tainá Muller é uma mulher loira, com cabelos repicados e cara de brava. Na foto, ela aponta uma arma
Tainá Muller volta como uma Verônica marcada e com sede de vingança. CRÉDITO: Alisson Louback

“Bom Dia, Verônica” é uma série de altos e baixos. A ótima primeira temporada, baseada no livro de Ilana Casoy e Raphael Montes, é urgente e pesada ao tratar da violência doméstica. A segunda parte da série, porém, beira o desastre ao expandir aquele universo em uma trama complexa e atropelada, como se tivesse sido planejada para mais episódios e encaixada em seis. A boa notícia é que na terceira temporada, suposta conclusão da série, as coisas melhoram um pouco. 


Em apenas três episódios, que talvez funcionassem até melhor como um filme, “Bom Dia, Verônica” introduz novos personagens, mas se mantém vinculada aos acontecimentos anteriores. Após prender e desmascarar o missionário Mathias (Reynaldo Gianecchini), Verônica (Tainá Muller) busca novas pistas sobre o orfanato em que Matias e Brandão (Eduardo Moscóvis, o vilão da primeira temporada) cresceram.


A protagonista então chega a uma pequena cidade e logo se depara com os poderosos locais, o bonitão/esquisitão Jerônimo (Rodrigo Santoro) e sua mãe, Diana (Maitê Proença). Mesmo que tudo pareça muito sinistro, Verônica, sem questionar, acredita em todo mundo, em todas as conveniências da situação e, principalmente, nas histórias que eles contam. Logo ela se vê envolvida em uma trama ainda maior e que funciona muito bem, desde que você, o espectador, esteja disposto a ser subestimado.



Rodrigo Santoro é um homem magro, bonito, de cabelos pretos compridos. Ele veste uma calça branca e está sem camisa enquanto pratica ioga.
Rodrigo Santoro é a grande adição à nova temporada de "Bom Dia, Verônica". CRÉDITO: Alisson Louback

O grande problema de “Bom Dia, Verônica” desde sua segunda temporada é a grande dependência que o texto tem de coincidências e escolhas pouco inteligentes dos personagens. Isso fica claro nos novos episódios em momentos distintos; primeiro no início do arco que envolve a filha de Verônica, e depois, principalmente, nas escolhas que o roteiro faz para deixar tudo “mais interessante” (as aspas são importantes). 


Talvez para fugir um pouco da previsibilidade da trama principal, a série busca algumas saídas que façam pouco sentido. Quando uma delas mostra que, de fato, não é só uma teoria absurda, “Bom Dia, Verônica” obriga que o espectador acredite que “tá tudo bem”, que aquilo realmente é possível e que todas aquelas coincidências não são muletas de roteiro. 


Quando os caminhos se definem, para o bem ou para o mal, a série ganha novos ares e até uma grandiosidade que claramente não estava prevista no texto original – daí a necessidade da suspensão da descrença, principalmente quando tudo se conecta meio de sopetão.


Por mais que este texto destaque problemas, vale ressaltar que a terceira temporada de “Bom Dia, Verônica” é boa. Os três episódios se propõem a ser fortes e nem sempre de fácil consumo. É muito interessante como a série entende perfeitamente o peso de ter Rodrigo Santoro em seu elenco e o filme quase com reverência, o que combina com o papel que lhe é entregue.



Tainá Muller e Rodrigo Santoro em cena de "Bom Dia, Verônica". CRÉDITO: Alisson Louback

É curioso, também, que o ator, com uma vasta carreira internacional, dê à série da Netflix uma pegada mais global (não é coincidência ele estar até à frente de Tainá no poster). Assim, o texto, que na primeira temporada tinha um quê de brasilidade na figura do Brandão (a casa suburbana, o policial corrupto…), se torna menos regional, uma história que poderia se passar em qualquer lugar do mundo.


A ambientação da temporada, que se passa quase toda numa fazenda que poderia ser “Yellowstone”, colabora com essa pegada menos regionalizada, mas isso não é um problema. “Bom Dia, Verônica” é bem filmada, em boas locações, e se sustenta em cima de um conjunto de atuações convincentes, mesmo quando exageradas. 


Tainá Muller já dá vida a uma protagonista cansada e marcada pela vida; enquanto Rodrigo Santoro, Reynaldo Gianecchini e Maitê Proença completam bem o time tornando tudo mais intenso e esquisito. Há um subaproveitamento da ótima Bella Carnero e até de Klara Castanho, que retoma o papel da temporada anterior, mas sem muita função definida na trama além da conexão com seu arco anterior e a história de superação de um trauma.



Reynaldo Gianechinni e Klara Castanho estão de volta na nova temporada. CRÉDITO: Alisson Louback

Em sua terceira e última temporada, “Bom Dia, Verônica” consegue ser tão urgente quanto na primeira, superando os equívocos da segunda leva de episódios. O texto ainda se sustenta demais sobre muletas de roteiro para se movimentar, mas as viradas ironicamente são mais bem trabalhadas nos três novos episódios do que nos seis anteriores. 


Ao fim, a série pode não ser perfeita, mas funciona como um todo e tem um final recompensador, principalmente quando se aproxima do caos. A história da escrivã da polícia que se envolve em uma rede de violências tem início, meio e fim, com camadas, bons personagens e algumas coincidências que são melhores se não pensarmos muito nelas.


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