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Foto do escritorRafael Braz

Dramédia romântica "Uma Ideia de Você" valeria a pena só por Anne Hathaway, mas vai além



Há um certo consenso na internet de que “Uma Ideia de Você”, livro de Robinne Lee, é uma fanfic criada em cima de Harry Styles e sua relação com Olivia Wilde, uma mulher dez anos mais velha (a autora nega). Lançado em 2017, o livro acompanha Solène, uma mãe solteira, prestes a completar 40 anos, que se envolve com Hayes Campbell, integrante de uma das boy bands mais famosas do mundo e 15 anos mais novo. Na recente onda de adaptações de romances literários de sucesso on-line, era impossível que o livro de Lee demorasse para ganhar sua versão nas telas.


Lançado pela Amazon Prime Video, “Uma Ideia de Você” funciona quase exclusivamente pelo carisma de Anne Hathaway. A atriz americana vive a protagonista, que leva a filha, Izzy (Ella Rubin), ao Coachella – o pai da jovem conseguiu um VIP e um encontro com a banda que ela tanto amava anos atrás, a August Moon, mas deu bolo no dia de levá-la ao festival. Solène então abre mão de seus planos e parte para o deserto californiano com a filha e seus amigos. Lá, por acaso, conhece Hayes Campbell (Nicholas Galitzine), um dos vocalistas da August Moon.


A conexão entre eles é quase imediata, mas o filme gasta o tempo necessário para convencer o espectador disso. É óbvio que há atração, mas as coisas não são tão simples assim para Solène, que mistura o encantamento pelo músico a pensamentos de quão errado aquilo pode dar e o quanto pode afetar Izzy.



“Uma Ideia de Você” é uma dramédia romântica que faz bom uso da fórmula para entregar um produto confortável, mas o texto se permite algumas ideias próprias e um frescor que o separam, por exemplo, de “Alguém Como Você”, que faz piadas com as próprias limitações do gênero.


O filme tem bons diálogos, proferidos com naturalidade por Hathaway, mesmo quando parecem meio ridículos. A atriz convence o espectador do drama da personagem e cumpre a ideia de colocar a mulher de 40 anos num lugar de desejo, no comando da relação; é Hayes quem corre atrás de Solène o tempo todo, colocando-a, também, em um lugar de poder, de decisão. 


Ajuda, muito, que Galitzine e Hathaway funcionem bem juntos, mas sem serem um encaixe perfeito. Sim, é difícil imaginar um casal mais bonito, mas a diferença de idade e a fama dele são empecilhos para ela.



“Uma Ideia de Você”, assim, lida com a culpa da mulher em busca de prazer, com a incapacidade de sacrificar a relação com a filha por uma escolha particular – algo que pesou em apenas um lado da relação de Izzy com os pais.


Em tela, dirigido por Michael Showalter, o texto de Rabinne Lee ganha mais profundidade e menos sexo. A tensão sexual está ali o tempo todo, mas o filme é bem menos gráfico que o livro, que bebeu muito na fonte de “Cinquenta Tons de Cinza” e teve até a autora, EL James, como consultora. Ainda assim, é interessante como o filme não menospreza o sexo na construção da intimidade entre Solène e Hayes.


O filme lida superficialmente com a misoginia e o etarismo, mas é sempre intencionalmente raso, como se fizesse questão de mostrar saber da importância dos temas, mas sem ter neles o seu foco.



“Uma Ideia de Você” merece crédito por seus diálogos distantes do pieguismo que ronda o gênero, mas peca por não se aprofundar mais em seus bons personagens. Solène e Hayes são muito perfeitinhos, lindos e bonzinhos demais para serem reais. Assim, o filme precisa de artificialidade em seus conflitos, recorrendo aos clichês dos amigos idiotas, por exemplo.


Vale destacar, também, o bom convencimento de que Hayes é, de fato, uma estrela. As cenas gravadas durante o Coachella funcionam bem e as músicas, criadas para o filme, poderiam tranquilamente ser grandes hits nostálgicos para uma geração inteira.


Ao fim, mesmo dentro das amarras que se impõe, “Uma Ideia de Você” é um filme até corajoso e sustentado por uma atuação convincente, de Nicholas Galitzine, e por uma que explode em tela, de Anne Hathaway. A atriz faz parecer impossível que alguém não se apaixone por sua personagem, o que aproxima o espectador dos sentimentos de Hayes e, consequentemente, de toda a trama.


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