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Foto do escritorRafael Braz

"Donzela", da Netflix, é bem mais que uma aventura de princesa

Atualizado: 12 de mar. de 2024


Millie Bobby Brown vive uma jovem levada ao limite físico e mental em uma jornada de transformação

Confesso ter sido surpreendido por “Donzela”, lançamento da Netflix estrelado por Millie Bobby Brown (“Stranger Things”). Provavelmente pelo fato de a atriz, hoje com 20 anos, ainda estar associada a uma marca adolescente tão forte, a ideia de uma aventura leve, ao estilo “Enola Holmes” (também da Netflix, também com Bobby Brown), era o que tinha em mente. O filme de Juan Carlos Fresnadillo (“Extermínio 2”), porém, mistura mundos, da ilusão de uma vida perfeitinha, de um conto de fadas, ao choque de realidade da vida adulta.


“Há muitas histórias de cavalaria em que o cavaleiro salva a donzela em perigo. Esta não é uma delas”, diz uma voz ao abrir o filme, pouco antes de vermos um grupo de cavaleiros invadindo uma caverna para enfrentarem um dragão e serem devidamente eliminados por ele. Séculos depois, conhecemos Elodie (Millie Bobby Brown) cortando lenha para dar suporte ao povo de onde vive – o inverno está rigoroso e sacrifícios são necessários.




Elodie logo descobre ter recebido uma proposta de casamento do príncipe do reino de Aurea, uma união que pode salvar sua família. Assim, ela parte, ao lado do pai, o lorde Bayford (Ray Winstone), da irmã, Floria (Brooke Carter), e da madrasta, Lady Bayford (Angela Basset, para conhecer seu noivo e o reino de que fará parte. Chegando lá, são recebidos pela rainha Isabelle (Robin Wright) e pelo príncipe Henry (Nick Robinson), com quem Elodie logo se dá bem. É um cenário perfeito, o casamento arranjado, quem diria, pode se transformar em amor.


Durante seu primeiro ato, “Donzela” é quase um conto de fadas, com um amor idealizado ao lado de alguém com quem compartilhar sonhos, uma idealização adolescente. É no dia do casamento de Elodie e Henry que as coisas ficam um pouco mais “sinistras”, com as tradições da ilha falando dos sacrifícios feitos pelos governantes para manterem a paz com um habitante antigo, o último de sua espécie… Não demora, claro, para Elodie se ver diante do dragão e, sem ajuda, ter que escapar da morte enquanto entende o que aconteceu com ela.


"Donzela" tem a premissa de conto de fadas, mas segue caminho diferente

“Donzela” é uma fantasia, uma aventura de cavaleiros, mas a narrativa central é a transformação da donzela, da adolescência à vida adulta, dos sonhos à cruel realidade. No momento da virada, Elodie está sozinha e pode contar apenas com as próprias habilidades – não é o amor do outro que vai salvá-la, mas sim o amor próprio.


Com experiência em cinema de terror, Juan Carlos Fresnadillo faz um bom trabalho criando expectativas no filme. Desde o início sabemos que o dragão está lá, mas demora para que de fato o vejamos. O diretor esconde seu coprotagonista nas sombras, sempre iluminado apenas pela luz de suas próprias chamas, além de revelar sua voz e partes de seu corpo. Assim, “Donzela” ganha ares de um terror de sobrevivência durante seu desenvolvimento, levando a protagonista ao limite físico e mental.


Há algumas boas surpresas no texto, principalmente no tom de alguns arcos, mas tudo se desenrola na segurança e nos confortos dos clichês, como em algumas péssimas soluções. “Donzela” utiliza bem a computação gráfica para apresentar o dragão em detalhes, e construir o reino (a chegada de Elodie a ele é ótima), mas peca em alguns momentos que deixam aquela sensação de cut-scenes de algum jogo. Nada que desmereça o trabalho realizado, que merece elogios por filmar em cavernas reais.




“Donzela” é uma aventura, uma fantasiosa, um thriller, mas é, em sua essência, um drama familiar sobre a passagem de uma menina para a vida adulta. Quase sempre que Millie Bobby Brown está em cena, a câmera está próxima de seu rosto, mostrando suas angústias, suas dúvidas, suas frustrações com o ocorrido e, principalmente, sua transformação. A história de Elodie é também a história do dragão, de duas mulheres enganadas reagindo, cada uma à sua maneira, ao que o mundo fez com elas.


Ao fim, “Donzela” é um veículo para Millie Bobby Brown. Ainda é uma fantasia, uma aventura, mas é um primeiro passo para a triz deixar de ser considerada uma estrela adolescente e partir, enfim, para obras mais adultas, seu público, afinal, envelhece junto com ela.



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