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Foto do escritorRafael Braz

Desprezada pela Disney, animação da Netflix chega ao Oscar




Quando ND Stevenson inicialmente publicou “Nimona” em seu perfil no Tumblr, em 2012, ele não tinha uma ideia exata do que seria a personagem, mas tinha plena noção do que queria como o fim da jornada dela. As páginas foram publicadas on-line até 2014 e viraram uma graphic novel no ano seguinte, rendendo prêmios e até um Eisner (prêmio máximo dos quadrinhos) para o autor.


Nimona é uma metamorfa, podendo se transformar em qualquer pessoa ou criatura em um piscar de olhos, e, por isso, é vista como um monstro pela Instituição que comanda o reino. Não é difícil associar o discurso da HQ, e agora do filme lançado pela Netflix e indicado ao Oscar, às questões de gênero com as quais Stevenson, um ativista queer, lida há tanto tempo. “Quando todos te vêm como vilão, é a única coisa que você será”, diz Nimona em determinado ponto de sua jornada.


Dirigido por Nick Bruno e Troy Quane, “Nimona” (dupla do bom “Um Espião Animal”), o filme, leva para as telas a obra de Stevenson, toda sua diversão e toda sua complexidade. Tudo tem início quando conhecemos Ballister (Riz Ahmed), um cavaleiro prestes a se tornar o primeiro protetor do reino que não tem origem na nobreza. No dia de sua consagração, no entanto, ele é vítima de uma armação criminosa que o transforma no bandido mais procurado do reino. É neste momento que Nimona (Chloë Grace Moretz) surge em sua vida.


Nimona acredita que Ballister é um perigoso vilão e, por isso, quer ser sua ajudante, uma chance de se vingar de quem a considera uma ameaça; se é uma ameaça que eles esperam, é uma ameaça que ela vai ser. Logo, porém, ela descobre que Ballister é inocente e tudo muda de cenário: agora ela está disposta a ajudar o amigo a provar sua inocência.


“Nimona” prende a atenção desde os primeiros minutos. Toda a criação de universo é incrível, com um mundo de características medievais, reinos e tradições, mas cheio de tecnologia futurística, smartphones, veículos voadores… O filme também tem ótimos diálogos, rápidos, cheio de boas sacadas em um roteiro estruturado o suficiente para oferecer conforto, mas inteligente a ponto de criar conexões de forma orgânica e dialogar com o público.


Mesmo tendo a questão da fluidez de corpo no centro do filme, ele nunca é panfletário, pelo contrário, é uma animação daquelas de fazer adultos e crianças rirem. Ainda assim, o texto tem foco claro na destruição de paradigmas, de destruir o status quo. A tal Instituição que comanda o reino é corrupta, conservadora e condena qualquer um que não se encaixe em seu padrão de normalidade. O próprio nome, “Instituição”, já deixa claro não ser uma ou outra, mas todas as instituições reunidas em um conceito único a ser combatido.


O fato de carregar tantos significados talvez faça “Nimona” parecer uma obra mais “séria”. A animação, no entanto, é colorida, cheia de vida e divertidíssima. O filme tem ótimas e criativas sequências que fazem total proveito dos poderes da protagonista, seja em grandiosas cenas de ação ou em algumas “menores”, como a do “bebê demônio” (que me coloca um sorriso no rosto apenas pela lembrança). A trilha sonora, cheia de punk, metal e rock’n’roll, dá um certo anacronismo que funciona bem para a ideia criada por Stevenson.


Algumas das escolhas da animação da Netflix são bem inteligentes, oferecendo a “Nimona” a possibilidade de uma continuação que não existe na HQ. O filme de Nick Bruno e Troy Quane se distancia um pouco dos quadrinhos de Stevenson, mas mantém o espírito do material original intacto.


Abandonado pela Disney quando já estava mais de 50% concluído, “Nimona” é a prova de falta de ousadia no reino do Mickey e seus projetos sempre “seguros”. O filme é divertido, com dois ótimos protagonistas, um excelente design de produção e um roteiro cheio de conteúdo sério transformado em tiradas pop. Um filme imperdível e, silenciosamente, um dos grandes lançamentos da Netflix em 2023.


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