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Foto do escritorRafael Braz

"Biônicos": Filme da Netflix fica entre o estilo e o constrangimento



O cineasta Afonso Poyart tem uma carreira interessante. Oriundo do mercado publicitário, Poyart ganhou muito destaque com o bom “Dois Coelhos” (2012), um thriller de ação embalado por um visual apuradíssimo. O filme abriu portas para Poyart, que desembarcou em Hollywood para o regular “Presságios de um Crime”, com Anthony Hopkins e Colin Farrell. A recepção morna do público, apesar de boas críticas, fez com que o diretor voltasse ao Brasil e emendasse uma sequência de bons trabalhos. Primeiro, “Mais Forte que o Mundo: A História de José Aldo”, mas principalmente a série “Ilha de Ferro” – em comum a todos os trabalhos, a estética sempre interessante.


Poyart agora estreia na Netflix com “Biônicos”, uma história que já havia explorado superficialmente num curta de 2020 chamado “Próteses”. No longa, em 2035, o mundo passou por uma revolução tecnológica a partir das próteses “biônicas”. 


Maria (Jessica Córes) é uma atleta orgânica, filha de uma atleta de sucesso e preparada para ganhar tudo. Quando ela finalmente está pronta para brilhar, o mundo perde o interesse no esporte “orgânico”; qual o sentido de ver uma pessoa pulando oito metros quando é possível ver “biônicos” saltando perto dos 20? É nesse momento que Gabi (Gabz), irmã de Maria que perdeu a perna na infância, se torna a maior atleta de saltos do mundo, deixando o clima não muito bom na família…



Antes de ser um texto sobre esporte, porém, “Biônicos” é um thriller de ficção-científica. Por isso, ele acompanha também a organização liderada por Heitor (Bruno Gagliasso), um grupo que deseja “igualar o jogo”, ou seja, dar a chance para que humanos sem próteses também tenham a oportunidade de ter a sua. O filme começa durante uma operação do grupo, com o irmão de Heitor (Klebber Toledo) invadindo um banco.


As histórias, é claro, se cruzam após um acidente sofrido por Maria a obrigar a usar uma prótese como a de sua irmã. No meio da história, há ainda o irmão das duas, Gus (Christian Malheiros), que faz o meio de campo entre os diferentes núcleos.


“Biônicos” tem estilo, com uma São Paulo futurista, com muitos painéis de neon oferecendo uma luz quase sempre azul ou vermelha aos personagens. Na ânsia por ser um produto global, o texto nunca identifica lugares ou regionalidades – até a competição, genericamente chamada de “jogos”, usa elementos em inglês para fugir de uma contextualização maior.



O estilo existe também na ação, bem realizada por Poyart, com efeitos especiais que, se não brilham, ao menos tentam passar despercebidos, com os elementos pertencendo aos ambientes com naturalidade.


O filme sofre, e muito, é com o roteiro de Josefina Trotta. Sem revelar spoilers, é possível identificar as viradas com alguma antecedência, principalmente por algumas escolhas do filme em separar personagens “bons e ruins”, não deixando nada na área cinza. Ainda, a presença de um núcleo policial não muito inteligente serve apenas para fins didáticos, para que o personagem de Danton Mello apareça explicando tudo o que está acontecendo na trama, como se não tivéssemos acabado de presenciar esses acontecimentos.



O filme tem boas sequências, como quando brevemente busca ecos do cinema de David Cronenberg (“Crash”) ou Julia Ducournau (“Titane”), mas a possível esquisitice logo é trocada por uma narrativa de novela das 19h, nos melhores momentos, e parte para a galhofa nível “Mutantes” no terceiro ato. No desenrolar da trama, há mais constrangimento pelo que se vê em tela do que pelo encantamento e pelas possibilidades daquele universo.


Ao fim, entre o estilo estético e o constrangimento narrativo, ficam as oportunidades desperdiçadas de se ter, de fato, um bom filme. Com um texto limitado em mãos, Poyart se limita a entregar o que se espera dele, a estética, em detrimento de todo o resto. Mesmo assim, falha miseravelmente durante o clímax de “Biônicos”.


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