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Foto do escritorRafael Braz

"Atlas": Filme com Jennifer Lopez na Netflix é um desastre



Ao fim de “Atlas” eu só conseguia pensar uma coisa: faltou ao filme Netflix ser dirigido por Zack Snyder. Continuaria ruim, mas ao menos seria autoral.


Superprodução de ficção científica carregada pelo “star power” de Jennifer Lopez, “Atlas” é um filme de ação/ficção científica genérico, como tanto se fez nos anos 1990 e 2000, e é difícil pensar que seria possível uma obra diferente com os nomes envolvidos.


Dirigido por Brad Peyton, um cineasta de filmes de ação genéricos e esquecíveis (“A Falha de San Andreas”, “Rampage”), a partir de um roteiro de Aron Eli Coleite (“Locke & Key”) e Leo Sardarian (da razoável série “StartUp”), “Atlas” faz jus a esses nomes. 


O filme tem início quando robôs comandados por inteligências artificiais iniciam uma revolução que, em dez dias, mata mais de um milhão de civis. Em uma breve montagem, entendemos que eles foram liderados por Harlan (Simu Liu), que “libertou” seus pares das amarras e das regras impostas a eles. Sim, parece “Eu, Robô” (ou tantas outras histórias) – Isaac Asimov é citado logo de início, como se o filme falasse “sim, eu sei que falta originalidade, mas estou copiando um dos grandes”. A introdução termina quando Harlan e outras IAs fogem do planeta com a promessa de voltar para “terminar depois”. Sim, não faz muito sentido…



Quase três décadas depois, conhecemos Atlas Shepherd (Jennifer Lopez), uma analista de dados brilhante que compartilha um passado quase familiar com Harlan. Quando um dos comparsas dele é preso na Terra, ela é convocada para interrogá-lo e descobrir a localização do líder das IA. Claro que as coisas não saem exatamente como o previsto e não demora para que Altas parta em uma missão espacial ao planeta para onde o vilão foi – só ela pode salvar o futuro da humanidade.


“Atlas”, sem nenhum toque autoral, busca emular o cinema estrelado por astros de ação de outros tempos. De fato, fosse lançado há 30 anos, o filme teria no protagonismo feminino um frescor para o gênero, algo que, em 2024, não tem. E isso não se dá apenas pelas mudanças sociais ao longo dos anos, mas principalmente porque o roteiro é ruim, com uma protagonista ruim e uma atuação muito fora do tom de Lopez.



Atlas, a protagonista, é o estereótipo do personagem “quebrado”. De forma totalmente expositiva, no diálogo de dois personagens, descobrimos que ela é insubordinada, incontrolável, instável e com problemas de confiança. Na tentativa de dar vida à descrição da personagem, Jennifer Lopez fica em algum lugar entre a comédia pastelão e o dramalhão televisivo. Há momentos constrangedores, principalmente na relação de Atlas com seu “meca”, Smith (voz de Gregory James Cohan), e a ironia é que boa parte do filme se passa na construção dessa relação.


É irônico porque o texto deveria ser sobre os conflitos de Atlas e Harlan, sobre a íntima rivalidade entre eles. O que teria acontecido? Tudo isso é explicitado em “descobertas” de Smith ou em falas de Atlas, sem nenhum espaço para sutilezas. Dessa forma, o Harlan de Simu Liu é escanteado, funcionando como um “chefão” que deveria ser misterioso, mas tudo é tão didático que não resta nada a ser descoberto sobre ele. Quando a suposta grande virada do filme se apresenta, não é absolutamente nada que já não saibamos.


Como ficção científica, “Atlas” lida de maneira muito superficial com seus conceitos. O texto parece atrasado ao menos uns 10 anos em toda discussão sobre a inteligência artificial, o que o torna pouco atrativo para o público do gênero e coloca Jennifer Lopez novamente numa encruzilhada: em um momento ela parece uma idosa com dificuldades tecnológicas, mas, logo em seguida, aparece com uma solução brilhante para alguma questão… tecnológica.



Já como blockbuster de ação, o resultado é um pouco melhor, mas não muito. Há sequências interessantes de combate e efeitos visuais competentes, principalmente se o espectador não tiver problema nenhum com filmes feitos quase em sua totalidade com computação gráfica. Quase nada em “Atlas” é orgânico, o que até justifica a escolha do roteiro de ter toda a ação em outro planeta.


“Atlas” tem um grande problema em seu roteiro, que parece feito por um amador. Em uma cena, por exemplo, Atlas chega a uma reunião de “briefing” com um calhamaço de umas 300 páginas; ela mostra um mapa e fala “é aqui que vocês descerão” e encerra a reunião sem nenhum questionamento sobre as outras 299 páginas de orientações – não é surpresa que tudo dê errado na missão… A cena serve apenas para reforçar que “não se pode confiar na tecnologia”, algo repetido muitas vezes ao longo do texto.


Ao fim, tudo é tão genérico e sem alma que, voltando ao parágrafo inicial, seria melhor se fosse dirigido por Zack Snyder. O cineasta, massacrado pelos dois péssimos “Rebel Moon”, também da Netflix, ao menos imprime uma assinatura, um estilo, o excesso de cenas em câmera lenta… Qualquer coisa seria melhor do que passar duas horas com algo tão genérico que é até difícil de ser analisado.


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