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Foto do escritorRafael Braz

Adam Sandler vai ao espaço em "O Astronauta", da Netflix


Adam Sandler vive o primeiro astronauta tcheco a ir ao espaço após a independência do país

Neste ponto da história da humanidade, a surpresa de “Adam Sandler é um grande ator dramático” já não é mais válida. Sim, conhecido por suas comédias quase sempre questionáveis e por alguns bons filmes “Sessão da Tarde”, o ator estadunidense é muito melhor com um bom texto em mãos e dirigido por alguém que saiba o que está fazendo. Para comprovar isso, basta ver os trabalhos de Sandler em “Embriagado de Amor” e “Joias Brutas”, obras em quem foi dirigido, respectivamente, por Paul Thomas Anderson (“Sangue Negro”) e pelos irmãos Benny e Josh Safdie.


“O Astronauta”, lançado pela Netflix, infelizmente não se encaixa no quesito acima – não por Adam Sandler, ótima no papel do astronauta solitário, mas pela ineficiência do texto em fazer com que o espectador se importe com qualquer coisa que vê em tela.


No filme dirigido por Johan Renck, da ótima série “Chernobyl”, a partir da adaptação do livro “Spaceman of Bohemia”, de  Jaroslav Kalfař’ (claro que eu tive que copiar esse acento), Sandler vive Jakub Procházka, o primeiro astronauta da República Tcheca pós-separação. Sozinho no espaço, ele encontra uma “nuvem cósmica” roxa e misteriosa perto de Júpiter, algo tão grande que é até visível da Terra. 


Solitário, o astronauta encontra uma companhia meio "diferente"

Procházka está há seis meses em sua missão, tendo deixado sua esposa, Lenka (Carey Mulligan, indicada ao Oscar por “O Maestro”), grávida na Terra. O isolamento, obviamente, não é fácil – quando o conhecemos, o astronauta já está delirante e com pouca conexão com a realidade. Ele então começa a ouvir vozes que logo se tornam algo muito maior e já não tem mais certeza de sua sanidade quando encontra uma aranha gigante (e meio filosófica) a bordo.


“O Astronauta” tem uma estética bem interessante, com Renck buscando transportar para o espectador o estado de confusão de seu protagonista. A câmera passeia pela nave, gira, treme, sempre acompanhando o astronauta. Na Terra, acompanhamos Lenka e os operadores da missão tentando, sem sucesso, reestabelecer contato com Procházka, situação que desperta no público a sensação de que a ignorância talvez seja uma benção. 


É curioso que, ao escrever este texto, eu perceba que “O Astronauta” tenha vários pontos positivos, mas por que o filme de Adam Sandler não funciona? O roteiro traz muito pouco do protagonista, de sua esposa ou da relação entre eles para que nos preocupemos com eles. O texto os encaixa em estereótipos confortáveis de “astronauta solitário” e “esposa abandonada”, mas não se aprofunda. É só nos expositivos diálogos de Jakub com a tal aranha (voz do ótimo Paul Dano) que o filme de Renck tem algum afeto, mas não é o suficiente.


Carey Mulligan vive Lenka, esposa do protagonista que permaneceu na Terra

“O Astronauta” traz conceitos de ficção científicas interessantes, mas já utilizados à exaustão. Há ecos de “Ad Astra”, de James Gray (disponível na Netflix), ou do clássico “Solaris”, de de Andrei Tarkovsky (depois adaptado por Steven Soderbergh), dois filmes que convencem em suas próprias “reinterpretações” do clássico “2001, Uma Odisseia no Espaço”, do lendário Stanley Kubrick. As questões existenciais e filosóficas já foram todas discutidas nesses filmes com muito mais qualidade.


Ao fim, “O Astronauta” não é ruim, mas tampouco é bom. Apesar do visual interessante e da atuação de Adam Sandler, o filme abusa do didatismo, principalmente quando se encaminha para a solução dos mistérios, sem nunca conseguir nos convencer da importância daquilo a que estamos assistindo.


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