A comparação imediata e quase inevitável de “Tudo em Família”, até pela proximidade de lançamento dos dois filmes, é com o bom “Uma Ideia de Você”. No lançamento da Netflix, dirigido por Richard LaGravaneses, do cultuado “P.S. Eu Te Amo!”, Joey King (“Barraca do Beijo”) é Zara, uma jovem de 24 anos que trabalha em Hollywood como assistente do astro Chris Cole (Zac Efron, cheio de procedimentos), estrela de uma franquia de filmes de heróis de qualidade duvidosa. Um belo dia, porém, Chris conhece a escritora Brooke (Nicole Kidman), mãe de Zara, e os dois dão início a um relacionamento que não é tão bem visto pela jovem.
A ideia de uma mulher mais velha, aos 50 anos, namorando um cara de 34, chefe de sua filha, de 24, aproxima o filme do já citado, estrelado por Anne Hathaway, mas “Tudo em Família” é uma criatura diferente. Enquanto “Uma Ideia de Você” funciona como uma dramédia conduzida pelo carisma de Hathaway, “Tudo em Família” é muito mais uma comédia romântica convencional, com os prós e os contras que o gênero carrega.
O texto de Carrie Solomon, em sua estreia como roteirista, é simples, como manda a fórmula, e depende das convenções do gênero para funcionar. É obviamente muito fácil imaginar alguém se apaixonando por Nicole Kidman, mas tudo é imediato – é compreensível que o filme dependa desse imediatismo para funcionar, mas alguns clichês poderiam ser evitados.
O que mais incomoda, porém, é o comportamento de Zara durante boa parte do filme. Suas transformações são sempre repentinas; em um momento ela quer sabotar o relacionamento da mãe, mas, em outro, logo na sequência, já está de boa com tudo. Da mesma forma, o “estar de boa” logo se transforma novamente em um comportamento infantil, bobo, de uma criança mimada que claramente não teria condições de trabalhar na dura indústria cinematográfica.
O mais surpreendente, talvez, seja perceber que a química entre Zac Efron e Nicole Kidman, como casal, não é das melhores. Os personagens até funcionam juntos e é fácil entender suas motivações, mas falta calor, falta vontade, falta tesão – algo em falta nas produções recentes, mas que o já citado “Uma Ideia de Você” ou o ótimo “Assassino por Acidente” transformam em atrativos.
Essa falta de tensão sexual nem é muito culpa dos atores, mas do roteiro que não permite que os dois se envolvam com mais calma; não há jogo de conquista, não há sedução, é tudo muito fácil e imediato. Falta também profundidade a Zara, apresentada apenas como uma jovem irritadiça e pouco interessante.
Apesar disso, o filme traz bons momentos, como a breve presença de Kathy Bates como a mãe do finado ex-marido de Brooke e um olhar breve, ainda que superficial, para a indústria de cinema – todos em Los Angeles são roteiristas, atores, produtores que querem estar envolvidos com Hollywood.
Ao fim, longe de ser brilhante, e até bem mais próximo da mediocridade do que deveria, “Tudo em Família” é uma comédia romântica razoável dentro dos clichês e das fórmulas que se propõe a seguir. Há, no entanto, um filme interessante que poderia ter funcionado melhor, um texto de como uma mulher de 50 anos, linda e bem-sucedida, tem seus desejos ignorados pela sociedade ao se encaixar em espaços pré-determinados de mãe, escritora, viúva… Nicole Kidman cumpre bem esse papel, mesmo que pouco explorado, e fica o sentimento de que talvez essa história fosse mais atrativa do que a da filha com muito a viver e aprender.
DICAS
A Cor do Dinheiro (Disney+)
Martin Scorsese, Paul Newman e Tom Cruise juntos, no filme que deu um Oscar de Melhor Ator a Newman. Um drama esportivo sobre um jogador de sinuca meio picareta que encontra um jovem ousado e promissor. Parece pouco interessante, mas não é. Além disso, é Scorsese, garantia de um bom filme.
Terra de Mulheres (AppleTv+)
Na nova série da AppleTV (atualmente a melhor plataforma de streaming), Eva Longoria é uma socialite nova-iorquina obrigada a fugir para a Espanha após o marido dar alguns golpes e desaparecer. Na nova vida, ela conhece um charmoso proprietário de vinícola, mas também tem que lidar com alguns fantasmas do passado de sua família.
Tartarugas Ninja: Caos Mutante (Netflix)
A ideia era ter um tipo de “Homem-Aranha: No Aranhaverso” para Leonardo, Raphael, Michelangelo e Donatello. Talvez não chegue a tanto, mas o novo filme animado das tartarugas ninja é bem interessante e o melhor material produzido com os personagens em muito tempo. Escrito por Seth Rogen, Evan Goldberg (dupla de “Superbad”) e Jeff Rowe, o filme é visualmente impressionante, tem boas piadas e funciona tanto para crianças quanto para adultos.
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